Homenagem ao Forte Príncipe da Beira, às margens do Rio Guaporé em Rondônia
Em 20 de junho de 1776, há exatamente 242 anos, nossos antepassados assentaram a pedra fundamental do Forte Príncipe da Beira, às margens do Rio Guaporé. Ali, nos confins mais inóspitos da Amazônia, duzentos homens trabalharam por nove anos numa empreitada que custou a vida do seu comandante, vitimado pela malária, além das vidas de outros mártires tragados pela selva. Toda a construção foi edificada com cal e pedra, sendo que o depósito de granito mais próximo distava 300 km do sítio escolhido. Ao término da missão, estava concluído o projeto geopolítico concebido pelo Marquês de Pombal, que resguardou a soberania da Coroa sobre a região Norte ao firmar sua ‘uti possidetis’ nas fronteiras ratificadas pelo Tratado de Santo Ildefonso (1777).
Com a ereção daquela atalaia, estava pronta última peça de um cinturão formado por cinco fortes, estrategicamente posicionados para vigiar as vias fluviais que poderiam ser usadas como eixos de penetração: São José do Marabitanas (1761), São Gabriel da Cachoeira (1761), São Joaquim (1775), São Francisco Xavier de Tabatinga (1776) e Príncipe da Beira (1783). Embora a Amazônia fosse nossa no papel, era preciso assegurar que ela não seria povoada por intrusos, falantes de outros idiomas que não a língua portuguesa, portadores de outras crenças que não a fé católica, leais a outras dinastias que não a Casa de Bragança. Deste diagnóstico emergiu o conceito de ‘uti possidetis’, que até hoje inspira as diretrizes geopolíticas do Exército no tocante ao desbravamento e ocupação da Faixa de Fronteira.
Entre os estudiosos do tema, muitos se impressionam ao constatar que os lusos conseguiram selecionar os melhores locais para firmar suas defesas, apesar das limitações impostas pela cartografia da época. Em 2009, durante um ciclo de palestras sobre segurança nacional, a platéia ouviu a seguinte observação do General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-Comandante Militar da Amazônia: “Se hoje coubesse ao Exército Brasileiro a missão de recomeçar aquela empreitada a partir do zero, nós ergueríamos nossos quartéis naqueles mesmos sítios, tamanha foi a clarividência dos portugueses na escolha das posições a serem fortificadas”.
Hoje o Forte Príncipe da Beira é guarnecido pela 17ª Brigada de Infantaria do Exército, que herdou a missão de vigiar aquele posto avançado do território pátrio. Em 2014, por ocasião do seu 238º aniversário, rezou-se uma missa nas ruínas da capela outrora existente no local. Ali, sob a liturgia do padre Reginaldo Barbosa, militares e líderes da comunidade ribeirinha se uniram para reavivar o compromisso assumido pelas gerações anteriores sob a proteção Deus: defender o território nacional e entregá-lo íntegro aos nossos descendentes, porque é nisso que devemos pensar quando pronunciamos a palavra sociedade – um pacto entre os vivos, os que já morreram e aqueles que ainda vão nascer.
Autor desconhecido, texto brilhante.
Fonte: A Pérola do Mamoré