Tragam Guajará Mirim de volta às origens
Por: Aluizio da Silva
Dadas as dificuldades por que passa a cidade de Guajará-Mirim nos tempos atuais, me veio à mente a idéia de “trazer Guajará de volta às origens”. Alguém pode pensar que estou louco ou sofrendo as consequências da velhice. Nem uma coisa nem outra. Estou lúcido, graças a Deus e com o raciocínio em dias, apesar da idade.
Há 60, 50 anos, não tínhamos a violência que impera hoje. As maiores “confusas” ocorriam no Boca Negra, zona do baixo meretrício, e na maioria da vezes ocasionadas pelos seringueiros, que chegavam “buiados” e mandavam ver na base da Cocal (a cachaça da época). à época, o então delegado da polícia, capitão Alípio, impunha respeito e a cidade não tinha tanto “vagal” nem tanto “noiados”, como hoje.
O comércio com a Bolívia ocorria de forma tranqüila e tudo era feito na base das “chatas” e embarcações impulsionadas pelo famoso 10-12. Não tinha – e nem precisa de balsa, pois o comércio da época era forte, mas não tão intenso quanto o de hoje.
O prefeito era nomeado pelo governador do então Território Federal de Rondônia que,por sua vez, era nomeado pelo Presidente da República. A prefeitura não tinha tantos servidores e também tanta despesas com pessoal e com a manutenção da máquina administrativa. O dinheiro vinha em malotes de Porto Velho.
A cidade não tinha tantos secretários e não se pagava tantas diárias. “Importados só mesmo os mais necessários em setores em que não tinha técnicos graduados na área.
Médicos, poucos, mas todos eficientes e atenciosos, assim como o corpo médico auxiliar. Os mais antigos lembram do Dr. Hélio Struthos Arouca, Dr. Fialho, Dr. Rizaldo e, mais recentemente, Dr. Cury e Dr. Perez. Queria ver uma pessoa ficar sem atendimento.
Deputado Federal era só um e geralmente o nome era de Porto Velho numa briga entre situação e oposição. Mas sempre era eleito o melhor para o povo. Aí tivermos Aluizio Ferreira, Rondon, Jerônimo Santana, o Home da Bengala, Isaac Newton, Dr. Rachid, Dr. Odacir Soares…
A educação não dava material escolar e a merenda era uma “merreca”, com o leite servido sendo daquele distribuídos pelos americanos da “Aliança para o Progresso”. E a meninada estudava e aprendia. O aluno respeitava o professor, que era uma figura querida em toda a cidade. E não tinha Bolsa Família para manter as crianças na escola. Daí a necessidade da criança, de família pobre, conseguir uma caixa para engraxar sapato ou um pequeno isopor para vender picolé, que acabou sendo assunto a ser explorado por políticos atuais.
Mas os tempos mudaram. Hoje a modernidade toma conta de tudo. E nessa mudança veio o descrédito nos políticos, a desconfiança (justa) nos governantes, a decadência dos valores éticos e morais. Até o nosso ordenamento político “afrouxou” e hoje xinga-se um prefeito, um governador, um ministro e até mesmo o presidente da República sem que o acusador receba qualquer punição.
As gerações atuais perderam o respeito pelo bem público e pelos valores que regulam a vida em sociedade. Lamentavelmente. Prevalece hoje o velho ditado: “Quem pode mais, chora menos”!
“Encucado” com tudo isso, me veio à idéia pedir “tragam Guajará de volta às origens”. Naquela época, éramos felizes e não sabíamos.
Administrador de Empresas, Jornalista e Radialista. Membro-fundador da Academia Guajaamirense de Letras (AGL).
Fonte: À Pérola do Mamoré