Roupas que reduzem calor e odor e repelem insetos devem chegar ao mercado
SAÚDE ABRIL
No verão de 2020, indústrias têxteis devem levar ao mercado tecidos funcionais, capazes de reter menos calor, controlar o odor do suor, proteger contra o Sol e contra mosquitos como o Aedes aegypti – vetor da dengue, da febre amarela, do vírus chikungunya e do zika.
Algumas peças de vestuário com essas funcionalidades usam tecnologias desenvolvidas pela Nanox – uma empresa apoiada pelo Programa Fapesp de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e nascida no Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela Fapesp.
A empresa desenvolve, em parceria com indústrias têxteis, tecidos com partículas em escala nanométrica (a bilionésima parte do metro) com diferentes propriedades. Entre elas, a de controlar micro-organismos causadores de maus odores, de refletir a radiação eletromagnética do Sol e de liberar de modo controlado repelentes e inseticidas.
“Já temos alguns projetos encaminhados com indústrias têxteis em fase de desenvolvimento final de tecidos com essas propriedades”, disse Daniel Minozzi, cofundador e diretor de operações da Nanox, à Agência Fapesp.
As partículas desenvolvidas são feitas com diferentes materiais e podem ser adicionadas aos tecidos isoladamente ou combinadas para conferir as funcionalidades desejadas. As que controlam o odor, por exemplo, são à base de prata, zinco e cobre e têm propriedades bactericida, antimicrobiana e autoesterilizante.
Ao serem incorporadas às fibras de tecidos, essas nanopartículas protegem o material contra o crescimento de bactérias, fungos e ácaros causadores de mau cheiro e também evitam o amarelamento, de acordo com a empresa.
“Uma das vantagens dessas nanopartículas antimicrobianas, em comparação com outros produtos químicos incorporados a tecidos antiodor existentes no mercado, é que elas apresentam maior resistência à lavagem, à temperatura e à abrasão”, disse Minozzi. “Além disso, têm menor impacto ambiental e não causam alergia. Por isso, podem ser usadas em qualquer tipo de tecido que entre em contato direto com a pele, como os de roupas comuns, esportivas, íntimas, de cama e banho e uniformes profissionais”, exemplificou.
Já as nanopartículas que protegem contra o Sol e proporcionam maior conforto térmico podem ser aplicadas em roupas comuns, esportivas e de praia, além de cortinas e uniformes de profissionais que precisam ficar muito tempo expostos aos raios solares.
Nesse caso, os materiais funcionam como microespelhos e refletem raios infravermelho e ultravioleta que poderiam penetrar o tecido. Dessa forma, são capazes de diminuir em até 65% a transferência de calor para a roupa.
Em testes feitos pela empresa, um tecido com as partículas incorporadas apresentou uma redução de até 6,5 ºC na temperatura, em comparação com um mesmo tecido sem as partículas, ao serem expostos aos raios solares.
“Os tecidos existentes hoje para resguardar contra o Sol conferem proteção só contra os raios ultravioleta. As nanopartículas que desenvolvemos são capazes de refletir também os raios infravermelho. Dessa forma, diminuem o calor do tecido”, disse Minozzi. “É uma tecnologia totalmente inovadora.”
Já a tecnologia de nanopartículas de proteção contra insetos voadores e rastejantes representa uma inovação incremental, comparou o executivo.
A empresa não revela detalhes da tecnologia por questões de segredo industrial, mas afirma que envolve um sistema de aprisionamento de moléculas dos repelentes ou inseticidas nas nanopartículas e na fixação delas nos tecidos.
“Alguns dos principais problemas para colocar repelentes em tecidos são a questão do odor do produto e sua fixação após o processo de lavagem. Desenvolvemos um sistema que permite incorporar um inseticida ou um repelente a um tecido”, afirmou.
Nanopartículas bactericidas já estão no mercado
As moléculas com propriedades bactericida, antimicrobiana e autoesterilizante desenvolvidas pela Nanox são aplicadas hoje em uma série de produtos. Entre eles, utensílios plásticos e filmes de PVC para embalar alimentos, assentos sanitários, palmilhas de sapatos, secadores e chapinhas de cabelo, tintas, resinas e cerâmicas e na superfície de instrumentos médicos e odontológicos, como pinças, brocas e bisturis.
Os maiores mercados da empresa hoje são os de eletrodomésticos de linha branca, como refrigeradores, além de bebedouros de água e aparelhos de ar condicionado, tapetes e carpetes.
“Como trabalhamos nesse segmento de tapetes e carpetes há oito anos, nossa entrada mais efetiva, agora, no segmento têxtil foi um caminho natural”, avaliou Minozzi.
Este conteúdo foi produzido originalmente pela Agência Fapesp.