Crônicas Guajaramirenses

No jogo da sedução a paquera virou campo minado


CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES

Por Paulo Saldanha

Na psicologia social, no tocante ao jogo da sedução, a humanidade pode perder o ponto de nivelamento ideal em razão das contradições que vão emergindo a partir da triste constatação de que tudo pode ser visto como assédio.

Ora, os homens da minha época (e ponham ‘época’ nisso…) lançavam o olhar como origem de um flerte, visando, é claro, flechar a sua gatinha manhosa escolhida. Intuitiva ou tecnicamente, o candidato a “Don Juan do bem” dirigia o olhar com ânimo  de conquista.

Hoje, todavia, a sedução transformou-se em campo minado, posto o conceito de que virou atrevimento endereçar flechadas com o olhar… e tanto pior com palavras, gestos e, pasmem, até pensamentos…

É evidente que há homens embrutecidos que, ainda hoje, vêem as mulheres como objeto. E muitos desses, sem sensibilidade alguma, transformam em grosserias o que poderia ser conduzido com inteligência e sutileza, como assinalei, com o ânimo pretendido de envolver um interesse da menina escolhida.

A paquera vai perdendo a sua graça porque, dependendo da intensidade e das adjetivações na abordagem pelo homem, pode derivar para a interpretação por parte da mulher de que aquele a tenta humilhar, constrangendo-a e expondo-a a vexames.

Será?

Será que um olhar de admiração e êxtase pode, a cada caso, submeter a mulher a constrangimentos? Sabe-se que um anjo não tem sexo. Mesmo assim a ele nos curvamos em admiração e respeito!

Imaginemos o impacto positivo que uma mulher causa a um homem quando este se surpreende ao ver diante de si um anjo corporificado – ela, plena de luz, cheia de graça, esbanjando charme e beleza, razão de desejar colocá-la no santuário próprio ou no seu altar particular. Deve-se punir um homem por um instante de arrebatamento, só porque um olhar enfeitiçado transformou em encantamento alguns segundos eternizados?

É evidente que se deve separar a grosseria – quando há palavras, ações e gestos obscenos, logo ofensivos e desconfortáveis – do deslumbramento respeitoso, que, por isso, eleva a mulher aos píncaros da sua graça, beleza e ‘veneno’ peculiar à brasileira, principalmente.

Atualmente o flerte corre o risco de se transformar em assédio, pois pode ser entendido como perseguição, impertinência e obsessão, perspectiva que tende a descambar para insistência e perturbação – logo, o que antigamente poderia ser apenas uma elevação maior do homem ao símbolo mor da perfeição entre todos os ideais, hoje pode ter a interpretação de que pode constituir violência psicológica contra a mulher.

O romantismo ficou fora de moda, e banalizaram o que antes era encantamento, magia e leveza no charmoso jogo da conquista, no qual o magnetismo de um buscava envolver o outro a partir da linguagem corporal lançada ao léu… em que as pupilas dos olhos se digladiavam como espadas fluorescentes, desejando penetrar na alma da pretendida parceira e, ao mesmo tempo, se transformavam esses olhares em faíscas que se chocavam com as centelhas da escolhida, como se competidora não fosse,  mas sim a namoradinha que seria…

E nesse prélio preliminar, a troca de sutis sorrisos era a arma de que se valiam “caçador” e “presa” na busca de uma chance para a abordagem.

E ao invés de ser caçadores, preferíamos ser o alvo das observações que sentíamos das ‘gatinhas’ interessadas nas nossas flechadas, com os seus enigmáticos sorrisos à la Monalisa, que podiam acender a luz verde para o “assalto”.

Naquele tempo a dança permitia antecipar a aproximação e, sem que isso fosse considerado uma transgressão, era possível colar o rosto no rosto da escolhida e aspirar o perfume que a envolvia. Declarações eram estimuladas por sorrisos que simbolizavam assentimentos… Terminada a dança, já cúmplices, caminhavam de mãos dadas até a mesa da família dela.

Se no auge da dança a luz era cortada, meu Deus, lábios se colavam a outros lábios e… peitos ofegantes e rostos avermelhados denunciariam que alguns afoitos teriam avançado o sinal!

Tempos bons, bem diferentes do “E, aí, mina, tô na tua! Tu tá na minha?..”

Hoje, todavia, bem casado, pai e avô, observo que no jogo da sedução a paquera virou campo minado… os jovens mais audaciosos que fiquem atentos!

*Membro fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.

O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Site A Pérola do Mamoré não  tem responsabilidade legal pela “OPINIÃO”, que é exclusiva do autor.


Edmilson Braga - DRT 1164

Edmilson Braga Barroso, Militar do EB R/1, formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Rondônia e Pós-graduado em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil.

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