“Um encontro com o rei”
Paulo Saldanha, membro das Academias de Letras de Guajará-Mirim e de Rondônia.
Eu sei que muitos têm N histórias para contar sobre a experiência de ter tido um encontro com o Edson Arantes do nascimento, digo Pelé, o rei do Futebol, o atleta do Século XX.
Ocorre que, uma vaidade besta tomou conta de mim, quando eu achava que esse defeito eu já o tinha exorcizado das minhas perspectivas. Ledo engano! Ela voltou forte, intensa, voluntariosa e uma inevitável vontade de compartilhar uma vivência eis que se me surgiu diante da infausta noticia sobre a viagem do ídolo para outras moradas do Senhor.
Em 1993 fiz parte do grupo que, sob o patrocínio das marcas CREDICARD/MASTERCARD fomos encaminhados à Barcelona na Espanha para um congresso em que havia de tudo: visitas, palestras, encontros de trabalho, turismo, resultando, enfim, em conhecimento e em aprendizado de geografia e de história.
Passaportes tirados, a capital paulista, o aeroporto internacional, embarque, localização dos assentos, quando já acomodados, no telão do 777 da VARIG (ainda não agonizante) apareceu a figura e a voz do vice-presidente dos patrocinadores.
–Senhores parceiros, boa noite, temos a honra de lhes dar as boas vindas… está a bordo deste Boeing uma celebridade que honra as duas marcas CREDICARD/MASTERCARD, e que, assim como os senhores e senhoras elevam a nossa parceria, esse personagem honra e glorifica o cenário sul-americano e porque não dizer o universo empresarial do mundo…
Brincando disse a minha mulher: –já descobriram que eu estou aqui…
E observei que todos questionavam quem seria a figura escolhida como divulgador internacional da dística CREDICAR/MASTERCARD. Sussurros eram ouvidos, apesar dos sons que as turbinas emitiam.
Continuando esse executivo: –assim que o avião nivelar, atingindo o vôo cruzeiro essa celebridade virá para cumprimentá-los. E o vice-presidente despediu-se polidamente.
Cerca de 18 minutos, eis que apresenta-se o Edson Arantes do Nascimento, elegantemente vestido num blazer azul, ostentando no bolso o emblema das patrocinadoras do congresso.
E 240 pessoas dentro do avião se levantaram para aplaudir o ídolo abrindo sorrisos largos, de contentamento, alegria e radiante surpresa.
As sorridentes comissárias, apoiadas pela equipe das empresas de cartões, foram distribuindo fotos do garoto-propaganda, que as ia autografando e dialogando com os passageiros.
Quando chegou na minha vez, ao lado da minha mulher brinquei com o Pelé:
–Pelé nós temos muitas coisas em comum, né?
–O Futebol, a nossa nacionalidade e o quê mais? Devolveu o grande atleta.
–Somos jogadores internacionais, Pelé!
–Em que País você jogou?
–Na Bolívia, lhe disse assim de pronto. Era só atravessar o rio Mamoré.
–Aonde fica?
–Em Rondônia, devolvi.
–Ah, sei, joguei em Porto Velho, num amistoso lá em Porto Velho.
Minha mulher torceu o nariz, como a me lembrar: –você querendo se comparar ao rei do futebol. Quanta pretensão!
O Pelé, soberano humilde, me perdoou pelo majestoso acinte e riu do meu chiste, enquanto autografava para meus filhos Delman e Dayan nas fotos presenteadas, com uma dedicatória que ambos guardaram por muitos e muitos anos.
Dez ou onze horas depois chegávamos a Barcelona. O Pelé desceu rápido e o grupo em seguida. Foi quando observei “um enxame abençoado” de repórteres, jornalistas e fotógrafos disputando entrevistas com perguntas e mais perguntas.
–Já descobriram que estou chegando, veja, mulher, a quantidade de profissionais da imprensa mundial, querendo entrevistar-me?
–Te manca, cara! Cresça e apareça! Veja o nosso ídolo ora fala em inglês, ora em português, ora em espanhol.
Sempre sorridente, com paciência divinal esse brasileiro continuava encantando o mundo. Equipes de TV, de rádio, de jornais, qual gladiadores, quase no tapa, disputavam a chance e o melhor ângulo para entrevistar o gênio do futebol mundial. Ele, desde 1958 já fulgurava como a nossa maior referência, a quem rendíamos a maior reverência.
À noite, num cassino acarpetado, rica decoração e espelhos de cristais, lugar destinado ao festivo jantar, num espaço aonde dançarinos se apresentavam, um Pelé especialista em danças espanholas, chamado ao palco pôde demonstrar toda a sua versatilidade num Flamenco perfeito que deu a dimensão de outro talento que possuía. Nós já conhecíamos o Pelé goleiro, ator, compositor, poeta, cantor e músico…
Dignificou-se como homem, cidadão, atleta, gestor público como ministro dos Esportes, mantendo íntegra Sua Majestade.
Terá sido um profeta visando a anunciar a vinda de um Messias do futebol?
Particularmente, acho difícil vir ao planeta outro deus de todos os estádios… E ele viverá por todo o sempre eternizado nas nossas lembranças, nos nossos cérebros e nos nossos corações.