A PASSAGEM DE IDA DO ADEMAR DA COSTA SALLES
CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES
Por: Paulo Cordeiro Saldanha
Está difícil de entender! o nosso Ademar, sem se despedir viajou,
deixando-nos incrédulos, indefesos, abandonados e desprotegidos, tudo
porque a amizade que dele recebíamos nos transformava em pessoas bem
fortes!
Desde há muito faz parte da história rondoniense seja porque foi
eficiente colaborador do INCRA, servindo em Guajará-Mirim, Ouro Preto e
Cacoal (até em Rolim de Moura foi parar), agenciando o progresso e
distribuindo desenvolvimento social e humano.
Implantou, sob as ordens do Assis Canuto, o PIC-Ouro Preto, nos seus
primórdios, concorrendo para que se transformasse no pujante município de
hoje.
Em Guajará-Mirim urgenciou a integração com os parceleiros chegantes e não afastou os nativos, muitos dos quais passaram a ser possuidores de terras.
Sem perder a ternura, assessorou o José de Abreu Bianco na Prefeitura
de Ji-Paraná e, no governo Bianco, a nível estadual, foi importante agente na
Secretaria da Fazenda, sob as ordens do Arnaldo, irmão do então governador.
Na administração Osvaldo Piana também ofereceu a sua inteligência,
talento e experiência, sob a batuta do então Secretário Bader Massud Badra,
com quem já trabalhara na Prefeitura de Guajará-Mirim.
Líder nato, recebia em sua casa gente de todos os pensamentos,
ideologias, matizes e vertentes, pois era um conciliador.
Afável, emérito gozador, ao contar uma tragédia fazia os seus
interlocutores se acabar no riso, aquele riso que abranda e cura “os males que
nesta terra se padece”.
Neste dia 30 de agosto de 2023, se ficamos mais pobres, com a viagem
desse espírito intenso! Todavia, o céu ficou mais energizado, pleno da sua inteligência e sabedoria e, num espaço bastante iluminado chegou de mansinho, sem querer aparecer e deve ter iniciado um papo com os inquilinos mais antigos, proseando naquele estilo único, palpitando, aqui e acolá, abrindo espaços na conservadora corte celestial.
E São Pedro, barbudão, abriu um sorriso posto ter recebido um espírito que sabia valorizar a caipirinha e a caipiroska, uma devoção do edificador da Igreja do Cristo.
O seu casamento com a Maria Lúcia Paes, minha prima, neta da
matriarca Cirila Paes, foi a síntese do amor verdadeiro que uniu um
matogrossense a uma guaporense na cidade em que seu pai Benedito Salles,
o virtuoso comandante dos maiores barcos da Empresa de Navegação do
Guaporé tanto brilhou, quando viveu nesta fronteira entre os anos 1930 e 1940.
Quando conheci o Benedito Salles, seu pai, ele era o cartorário de registros na comarca de Barra do Bugres-MT. E me acolheu num domingo, mesmo sendo seu direito ao descanso. Lá em Cuiabá conheci seus outros irmãos e irmãs, um deles professor universitário, o outro procurador do estado.
Mas, voltando ao Ademar acho difícil esquecer um homem da sua
envergadura. Deveria ser nome de praça ou de rua em Ouro Preto do Oeste porque poucos dos que por lá passaram fizeram tanto quanto ele, do alto da sua inquestionável competência e do manancial de empatia e de humildade que soube distribuir, como exercício de um tipo de sacerdócio, fazendo do seu apostolado a abertura de um caminho que conduzisse a sua messe na produção do bem e da justiça social.
Mesmo se tivesse condições eu não iria ao seu sepultamento. Prefiro
lembrar dele, fazendo suas blagues sobre a minha figura, bebendo a caipiroska
e saboreando uma carne, tão competentemente elaboradas pelo seu neto, que
mandara preparar para celebrar uma das últimas visitas que lhe fiz.
Ele era caloroso, às vezes emocional na acolhida. Nas conversas sérias
se transformava num filosófico conselheiro e amadurecido mentor. Afinal, tinha
cultura e vivências muitas para orientar, guiar, encaminhar direções corretas.
Caro Ademar, não se preocupe conosco, que ficamos, desde já, curtindo
uma saudade doida de lascar por mais empedernido, por mais duro que seja o coração de alguém.
Sem você tudo fica mais difícil! Mas, com você, um dos grandes guerreiros com quem me irmanei, todos sabemos que estará nos acalentando com suas bênçãos daí de cima e, com o seu legado, haveremos de vencer…
Como você, Ademar, viajou, sem se despedir permita-me lhe dizer, bem
ao gosto do que se escuta nesta fronteira, quando alguém da nossa estima,
que, assim como você cativou tanto amor e benquerência, tanta estima,
simpatia e apreço, neste seu trânsito pelo planeta: “que te vaya bien”, querido
irmão!
– que te vaya bien, querido irmão! e que descanses em paz!