Crônicas Guajaramirenses

A víbora e o homem mau


CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES

Por: Paulo Saldanha

Permitais, meus senhores, que eu transite pelo tema que consiste na comparação entre a víbora e o homem mau. Ela, que rasteja para saciar a sua fome, para defender-se e atacar, inoculando em suas presas o seu veneno mortal, vitimando-as. Ele, o ser humano a quem acuso de, tantas e tantas vezes, tornar-se pusilânime valendo-se da bajulação, da mentira e da traição para vilipendiar, magoar e ofender.

Ambas as criaturas tem o mesmo perfil porque sabem esconder-se, camuflar-se e até metamorfosear-se nos cantos, nas salas, escritórios e nos buracos da vida, com o intuito de enganar, dissimular e surpreender os incautos.

Nas diversas geografias por onde transitei deparei-me com esses dois tipos de serpentes. São dissimuladas, valem-se da perfídia e da adulação para sobreviver.

“Nunca bajules; se alguém te bajular, cuidado, pois a bajulação corrompe!”… Verdade de uma das mais sagradas instituições do universo, estampada como um dos seus dogmas bem filosóficos.

Muitas serpentes, inclusive, se valem da camuflagem para encobrir a sua presença num território estrito. A jararaca, por exemplo, pode ser confundida com o ambiente biológico em que sobrevive, o seu habitat, onde percorre distâncias à procura de alimento, e em cuja trajetória, ao encontrar os seus predadores, ataca e expele seu líquido peçonhento numa mordida fatal.

Muitos homens, ardilosos no seu DNA, tantas e tantas vezes – principalmente, no jogo pela conquista do poder, sempre efêmero diante do domínio de Deus – brincam de amigos leais, fervorosos e fiéis companheiros, e acabam vendendo a própria alma ao diabo para seduzir as chefias e, assim, alcançar um lugar cobiçado que lhes possa render mando e dinheiro. São escorregadios, ensaboados e nutridos na mentira, na dissimulação e nas mesuras aos poderosos. No popular, “puxa-sacos” e vendilhões. Há alguns até que tentam transferir para outrem os crimes de sua própria lavra…

Mas, um dia, nesta ou noutra encarnação, essa dívida cármica ser-lhes-á cobrada por sua temeridade, fruto de uma ganância sem medidas, despudorada e infame.

Nem sempre são apanhados, a não ser a partir do instante em que os seus eventuais patrocinadores perdem um comando ou poder de mando, quando, aí sim, estes descobrem a personalidade deformada e mutante do protegido, haja vista o pronto afastamento deste com a consequente transferência do alvo, pois passam, rastejando como víboras, a freqüentar o ambiente dos novos poderosos do pedaço.

A história universal nos traz um Judas como apóstolo do Cristo, o símbolo da negação maior da fidelidade e da lealdade! Joaquim Silvério dos Reis é recorrente citação, exemplificando a traição como método constrangedor na narrativa sobre a luta pela Independência do Brasil.

É possível que as serpentes cultivem melhores sentimentos, posto que só atacam quando se sentem ameaçadas ou para alcançar o direito ao alimento. Os homens maus, não! Por serem dissimulados, seduzem de forma sutil, objetivando o macabro, escondendo-se no manto da subserviência e da dissimulação, visando a recolher as benesses que o poder mal exercitado lhe haverá de prover.

Enfim, a víbora, chamada de cobra ou serpente, é um ser recalcado, pois tem que rastejar para se locomover e saciar a sua fome – tal qual o homem mau, desprovido de caráter, que para sobreviver tem de se valer da própria torpeza e do recalque que o habita, submetendo-se ao vício da bajulação, dissimulação e hipocrisia, porque não tem amor próprio…

Sem talento, será sempre um fracassado!

“Os traidores são colhidos na sua própria cobiça” (Provérbios 11,62).

 


Edmilson Braga - DRT 1164

Edmilson Braga Barroso, Militar do EB R/1, formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Rondônia e Pós-graduado em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil.

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