Crônicas Guajaramirenses

As mentiras de Eurácio Torito

CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES


Por: Paulo Saldanha

Eu, que procuro ser da paz, fiquei entristecido com o afastamento de dois amigos, ainda que, sempre os visse discutindo, mas nada tão forte que os mantivesse muito tempo de mal.

É que Eurácio Torito tinha o mesmo defeito que todos observavam em Artuzin Pedregoso: a mentira!

E por mentirem tanto, brigavam muito, um tripudiando das invencionices do companheiro.

Ocorre que Torito andou espalhando que durante uma das natações que fazia, no fim de cada madrugada no rumo de Surpresa (distante em 220 Km de Guajará), pelo rio Mamoré, numa delas teve que voltar, pouco adiante das 7 Ilhas (cerca de 15 Km longe da cidade fronteiriça), pois ao levantar a cabeça viu 7 baleias descendo em alta velocidade.

Como havia lido sobre esses animais, conheceu, apesar da distância de mais de 300 metros, que seriam Orcas, aquelas com mais de 10 toneladas, que podem afundar, inclusive pequenas canoas, ubás e lanchas.

E tremeu porque as reconhecia como assassinas.

Artuzin, não se conformando com o retorno repentino da fama de Eurácio, ficou enciumado e planejou desmoralizar o colega, com quem, repito, havia brigado.

Acabaram por se reencontrar no mercado do peixe e Pedregoso, não resistindo puxou conversa.

–Você, heim? Continua não negando fogo! Ninguém o supera nas mentiras que inventa. Essa das baleias no Mamoré, até Deus duvida…

–Pois aconteceu e nem me interessa se você crê ou não! Sou superior! O certo é que se eu não nadasse rápido não estaria aqui na sua frente…

E o povo foi chegando, chegando, gerando aglomeração nos tempos de pandemia. Todos imaginavam que, no mínimo, uma briga resultaria daquele encontro indigesto.

–Você só não é mais mentiroso porque é meio homem só.

–Mentiroso é você, seu bilontra, seu cambalacheiro de uma figa.

Parecia que uma tempestade iria cair, o clima foi ficando tenso, nebuloso, nuvens negras pairavam no céu, raios e trovões, sob a forma de palavras, palavrões, termos indecentes que se sobrepunham no espaço.

–Pois me diga bufão, você, um fanfarrão que fez eclodir no meu íntimo o sentimento da raiva, do ódio e da incredulidade, como que baleias que são especificamente dos oceanos, puderam descer num rio, o nosso Mamoré?

–Simples, né! No último Arco-Íris, após aquela chuva torrencial, à noite, um Arco Íris triplo, nunca tinha visto um igual, que bebia água em Fernando de Noronha trouxe os bichos e, em fração de segundos, os despejou abaixo de Surpresa. Vieram baleias e vieram tubarões brancos, esses foram devorados pelas baleias orcas.

E tanto é verdade que o Matias Mendes, apascanando abaixo de Surpresa viu, filmou e fotografou tudo…

Faço a observação que jamais perguntem ao Matias Mendes para confirmar…

Não ficou um entre todos os circunstantes. De fininho foi saindo um, depois outro e aqueloutros.

E os comentários ficaram por conta não das baleias surgidas no rio Mamoré, mas no fato de terem sido removidas da Ilha Pernambucana por um Arco Íris noturno, três vezes no tamanho, no comprimento e na largura.

Só um Eurácio Torito para inventar um “causo” desse. Em razão do que foi dito, devo esclarecer que Artuzin Pedregoso continuou de mal com o antigo amigo, posicionando-se enciumado e contra-feito, ante o sucesso e as repercussões da narrativa escandalizante de Torito.


Edmilson Braga - DRT 1164

Edmilson Braga Barroso, Militar do EB R/1, formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Rondônia e Pós-graduado em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil.

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