MEU TEMPO
Por: Luiz Albuquerque (*)
No começo não havia o tempo. Eu chorava e alguém me dava o que mamar. Chorava, e alguém me embalava. Ainda que eu não soubesse nada de tempo, meu tempo se dividia em dormiram, acordar, mamar, chorar, dormir… e assim eu passava o tempo.
Depois, descobri que meu irmão mais velho ia à aula, e o tempo começou a me perturbar. Para piorar, eu ia com o meu pai deixá-lo no colégio. Por mais que o tempo passasse nunca eu chegava aos cinco anos, quando, finalmente, poderia começar a frequentar o colégio.
Até o dia que pude, também, ir à aula. E o tempo era bom. Cada dia, nova vida! E a coisa foi assim até meus doze ou treze anos, quando descobri que o tempo de crescer ainda estava longe. Foi o tempo mais demorado de minha vida.
Se antes o tempo quase não existia (a não ser quando esperava por um aniversário ou pelo natal), comecei a achar que nunca faria quinze anos e, depois, dezoito. Todo mundo tinha mais de dezoito anos, menos eu, todo mundo tinha namorada, menos eu. Todo mundo ia às festas, menos eu. Todo mundo curtia, menos eu.
Até que, enfim, chegou o tão esperado dezoito anos.
Depois disso, gente, até parece que o mundo perdeu o freio. Namorei, casei, estudei, me formei, trabalhei, e, de repente, me vejo com trinta anos e sem tempo nem para pensar. Água, luz, telefone e outras contas vencendo numa velocidade supersônica, enquanto o salário demorava um século para cair na conta.
Aí me chega um camarada e diz: “sou fulano, namorado da tua filha”.
Como é que é, jacaré? E desde quando minha filha tem namorado? E então descubro que minha garotinha não só tem namorado – e que não é o primeiro – como já deixou de ter algo que, antigamente, muita gente achava que as moças só perdiam no casamento.
Aí eu me olho no espelho: Nossa! Estou com rugas e meus cabelos estão embranquecendo, já não me reconheço! Olho para trás e sinto que não vi o tempo passar.
E como passou.
Estou com mais de 40 anos! Penso, então, que é hora de aproveitar melhor o tempo e, por isso, vou, aos poucos, buscando novas coisas: cultura; arte; esportes; relacionamento. Mas, como ainda preciso trabalhar – e muito – tudo vai sendo deixado de lado.
E os anos voam. Cinquenta, sessenta, setenta anos.
Até o dia que me pego sentado à sombra de uma árvore e vejo o dia passar, lento, modorrento, sem pressa, do jeito que tantas vezes eu sonhei, do jeito que eu teria aproveitado. Só que, agora, ele só passa e eu só o deixo passar. Os dias são longos, as noites mais longas ainda. E então eu espero chegar meu tempo, um tempo de tranquilidade, um tempo quando o tempo já não vai mais existir. Um tempo quando receberei o que tiver que vir, ainda que eu não o queira!
(*) Luiz Albuquerque
Em RO desde 1979 – Expecialista em Técnica de Vendas, Escritor
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