Dólar volta a subir nesta quinta e chega a R$ 4,21
Alta perdeu força depois que BC anunciou intervenção adicional no câmbio.
A corrida eleitoral no país e o cenário externo, com a crise na Argentina se acentuando, estão garantindo um dia turbulento no câmbio no Brasil. Depois de disparar pela manhã, chegando ao patamar de R$ 4,21, o dólar perdeu força, reagindo a uma intervenção do Banco Central.
Às 15h34, a moeda norte-americana subia 1,19%, a R$ 4,1664. Na máxima do dia, chegou a R$ 4,2144. Na mínima, a R$ 4,1195. Veja mais cotações.
Nestes patamares, o dólar ronda a maior cotação de fechamento da história frente ao real. A maior até agora foi registrada em 21 de janeiro de 2016, quando a moeda dos EUA encerrou o dia a R$ 4,1631. No intradia, no entanto, esse valor já foi maior: o dólar chegou a valer R$ 4,2484 em 24 de setembro de 2015, mas recuou e fechou abaixo de R$ 4.
Na véspera, o dólar caiu 0,54%, a R$ 4,1176, após se aproximar da máxima de fechamento histórica no começo do pregão.
Intervenção do BC
A alta do dólar perdeu força no início da tarde, depois que o Banco Central anunciou uma intervenção adicional no câmbio, além das já previstas. O BC fará um leilão para ofertar US$ 1,5 bilhão em contratos de “swaps cambiais” – que funcionam como uma venda de moeda no mercado futuro.
Em comunicado, a autoridade informou que as intervenções visam “prover liquidez e garantir o bom funcionamento do mercado cambial e, portanto, do regime de câmbio flutuante”.
Na quarta-feira, o Banco Central já havia anunciado que faria leilões de venda de dólares com compromisso de recompra nesta sessão, para rolagem dos US$ 2,150 bilhões que vencem no próximo dia 5 de setembro.
Com isso, o BC retira qualquer pressão adicional sobre o câmbio por causa de dúvidas sobre esse vencimento. “Com o leilão de linha, o BC dá uma sinalização de que está de olho no mercado e vai entrar se necessário”, afirmou à Reuters a estrategista de câmbio do Banco Ourinvest Fernanda Consorte.
O Banco Central brasileiro também realiza neste pregão leilão de até 4,3 mil swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares, para concluir a rolagem do vencimento de setembro, no total de US$ 5,255 bilhões de dólares.
Análise
A cotação por aqui segue a trajetória da moeda norte-americana ante divisas de emergentes no exterior e reflete as perspectivas do mercado depois de uma nova rodada de pesquisa de intenção de voto. Também pressiona a cotação da moeda a alta de juros anunciada na Argentina, onde a taxa chegou a 60%.
Em um momento de subida dos juros na Argentina, o BC também informou, em seu comunicado, que sua atuação no mercado cambial é “separada de sua política monetária [definição dos juros para atingir as metas de inflação], não havendo, portanto, relação mecânica entre a política monetária e os choques recentes”. Ou seja, a instituição informou que não vai subir os juros básicos da economia, atualmente na mínima histórica de 6,5% ao ano, exclusivamente por conta da disparada do dólar.
“Sem grande ‘ajuda’ do exterior, e ainda com dúvidas sobre as perspectivas políticas por aqui, o viés para os ativos locais, nesta sessão, é mais negativo”, disse a corretora Guide Investimentos em relatório.
Apesar dos solavancos, o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall, não vê riscos relevantes de que as crises na Argentina e na Turquia se estendam para o Brasil. “É preciso separar o movimento de moedas emergentes que estão refletindo o quadro de dólar mais forte, que vem desde abril. Isso tem um impacto nas emergentes como um todo”, diz o especialista segundo a Reuters. “Num outro extremo, estão os países com situação complicada com balanço de transações correntes e déficit elevado. É o caso da Argentina que teve uma desvalorização de 50% no peso em 2018”, acrescenta.
A moeda argentina amarga o pior desempenho global entre as principais divisas globais no acumulado deste ano, seguida pela lira turca, que perde 44%. O real vem logo em seguida, com desvalorização de 21%.
Para Kawall, a dinâmica do mercado brasileiro tem sido ditada nas últimas semanas pelas incertezas eleitorais. Não se trata do mesmo problema de Turquia e Argentina, mas o fator eleitoral pesa no mercado principalmente diante da necessidade de ajustes fiscais. “Eu não vejo o Brasil indo para caminho de Argentina e Turquia”, destaca o especialista, ao destacar também os índices de inflação ainda contidos no Brasil.
Novo patamar e perspectivas
A recente disparada do dólar, que voltou a romper a barreira dos R$ 4 após 2 anos e meio, acontece em meio às incertezas sobre o cenário eleitoral e também ao cenário externo mais turbulento, o que faz aumentar a procura por proteção em dólar.
Investidores têm comprado dólares em resposta a pesquisas que mostram uma fraqueza de candidatos voltados a reformas alinhadas com o mercado. Além disso, o nervosismo gera maior demanda por proteção, o que pressiona o real. Exportadores, empresas com dívidas em dólar e turistas preocupados correm para comprar e ajudam a elevar o preço da moeda americana.
Outro fator que pressiona o câmbio é a perspectiva de elevação das taxas básicas de juros nas economias avançadas como Estados Unidos e União Europeia, o que incentiva a retirada de dólares dos países emergentes.
A visão dos analistas é de que o nervosismo tende a continuar e que o mercado ficará testando novas máximas até achar um novo piso ou até que se tenha uma maior definição da corrida eleitoral.