Incomodado com acenos à Marinha, o Exército se movimenta para garantir o Ministério da Defesa
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, já foi avisado do incômodo de generais do Exército com a possibilidade de o Ministério da Defesa ser entregue a um oficial da Marinha, o que pode se configurar numa crise na montagem do governo justamente na área militar, de onde saíram tanto o presidente quanto o vice-presidente eleito, general Antônio Hamilton Mourão. O incômodo principal é com a assertividade com que o próprio Mourão defendeu a ideia de dar a Defesa a um oficial mais graduado da Marinha, de forma a garantir um “equilíbrio” entre as três Forças Armadas.
O Ministério da Defesa é ocupado hoje por um general do Exército, Joaquim Silva e Luna. A indicação dele ao cargo pelo presidente Michel Temer quebrou a tradição de destinar a pasta a um civil, a quem se reportavam os comandantes das três Forças. Eleito presidente da República, Bolsonaro anunciou o general da reserva do Exército Augusto Heleno como o novo ministro da Defesa a partir de 1º de janeiro de 2019.
Mas, em poucos dias como presidente eleito, entre outros recuos, Bolsonaro voltou atrás e indicou Heleno para ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) , cargo com uma rotina lado a lado do presidente dentro do Palácio do Planalto.
A mudança de rota abriu uma disputa na caserna pelo comando do Ministério da Defesa. Generais do Exército tentam garantir Luna no cargo. A Marinha se movimenta para ver um oficial de quatro estrelas no posto de ministro.
Na última terça-feira (6), após ir até a Marinha para visitar o comandante da Força, o almirante-de-esquadra Eduardo Bacellar Leal, Bolsonaro comunicou que prefere Heleno no GSI. Na mesma ocasião, o presidente eleito disse que o ministro da Defesa será um “(oficial) quatro estrelas”.
“Pode ser até alguém da Marinha, já que estou aqui”, disse Bolsonaro.
No dia seguinte, Mourão deu uma declaração mais convicta:
“Ele está escolhendo um outro oficial-general. Está pensando em alguém da Marinha, para ter um equilíbrio.”
A declaração de Mourão, que integrou o alto comando do Exército até ir para a reserva, em fevereiro deste ano, provocou insatisfação em colegas da cúpula da Força. O entendimento entre eles é de que o Exército tem contingente três vezes maior que a Marinha — são 210 mil militares na primeira Força, ante 70 mil na segunda — e dez vezes mais unidades no país — 700 unidades, ante 70 da Marinha. Por isso, na visão de generais do Exército, não haveria razão em falar em “equilíbrio” entre as Forças.
Além disso, generais do Exército entendem que a Força está na linha de frente da intervenção federal no Rio e de operações de garantia da lei e da ordem, cada vez mais corriqueiras. Por isso, reivindicam o Ministério da Defesa para a Força. Na visão deles, não há que se falar em equilíbrio de Forças na composição do governo, uma vez que o general Mourão foi eleito vice-presidente e o GSI tem a responsabilidade de dar segurança ao presidente, uma competência que caberia naturalmente à Força terrestre.
Na manhã de quinta-feira (8), general Heleno deu uma declaração a respeito que soou dúbia, uma mostra da indefinição a respeito do comando do Ministério da Defesa:
“A gente procura ter esse equilíbrio, não porque haja ciumeira entre as Forças, mas porque é necessário que haja uma diversidade de visões e de opiniões para as decisões que têm de ser tomadas pelo ministério. É desejável que haja um equilíbrio. Mas não tem obrigação (de ser de outra Força)”, disse o anunciado, por enquanto, ministro do GSI.
O Sul/montedo.com