Vélez Rodríguez: indicado por guru dos Bolsonaro e pró-Escola sem Partido
Futuro ministro da Educação também é contrário à abordagem de gênero nas escolas, faz críticas ao Enem e exalta ‘disciplina’ de colégios militares
João Pedroso de Campos
Futuro ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro, anunciado na noite desta quinta-feira, 22, o filósofo colombiano Ricardo Vélez Rodríguez já afirmou ter sido indicado ao cargo pelo filósofo Olavo de Carvalho, conselheiro do presidente eleito e guru de seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro.
A informação foi publicada por ele em seu blog, o “Rocinante”, referência ao nome do cavalo de Dom Quixote de la Mancha, do clássico de Miguel de Cervantes, “um espaço para defesa da Liberdade, da forma incondicional em que Dom Quixote fazia nas suas heroicas empreitadas”.
Em uma postagem datada do dia 7 de novembro e intitulada “Um roteiro para o MEC”, Ricardo Vélez Rodríguez afirma que seu nome foi indicado a Bolsonaro, entre outros, por Carvalho. “Amigos, escrevo como docente que, através das vozes de algumas pessoas ligadas à educação e à cultura (dentre as quais se destaca o professor e amigo Olavo de Carvalho), fui indicado para a possível escolha, pelo Senhor Presidente eleito Jair Bolsonaro, como ministro da Educação”, escreveu.
No mesmo texto, o indicado à pasta diz que entende haver uma “tarefa essencial” ao Ministério da Educação: “recolocar o sistema de ensino básico e fundamental a serviço das pessoas e não como opção burocrática sobranceira aos interesses dos cidadãos, para perpetuar uma casta que se enquistou no poder e que pretendia fazer, das Instituições Republicanas, instrumentos para a sua hegemonia política”.
Para o futuro ministro, os brasileiros são “reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de ‘revolução cultural gramsciana’, com toda a coorte de invenções deletérias em matéria pedagógica como a educação de gênero, a dialética do ‘nós contra eles’ e uma reescrita da história em função dos interesses dos denominados ‘intelectuais orgânicos’, destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo”.
Ainda em seu blog, o filósofo defende o polêmico projeto Escola sem Partido, que tem apoio de Bolsonaro e pretende combater suposta doutrinação política dentro das salas de aula. “Escola sem partido. Esta é uma providência fundamental. O mundo de hoje está submetido, todos sabemos, à tentação totalitária, decorrente de o Estado ocupar todos os espaços, o que tornaria praticamente impossível o exercício da liberdade por parte dos indivíduos”, observa ele em um texto divulgado em 5 de setembro de 2017.
Ele também critica a abordagem de gênero nas escolas. “Todos os totalitarismos do século XX partiram para negar esse sagrado poder de a família educar os seus filhos. É tentação do ‘politicamente correto’ que se esconde hoje, por exemplo, nas propostas da ‘educação de gênero’ veiculadas pelos gramscianos e outros grupos de inimigos totalitários da liberdade. No nosso país essa mefistofélica proposta está ameaçando as famílias. É uma das desgraças herdadas do lulopetismo, hoje replicada pela esquerda metida a sabichona”.
Sobre as avaliações do Exame Nacional do Ensino Médio, classificadas por Jair Bolsonaro como “vexame” e “doutrinação exacerbada”, Ricardo Vélez Rodríguez diz que são “entendidas mais como instrumentos de ideologização do que como meios sensatos para auferir a capacitação dos jovens no sistema de ensino”.
Após o Enem 2018, que teve uma questão sobre o pajubá, “dialeto secreto” adotado por gays e travestis, o presidente declarou que o nome a ser indicado para o Ministério da Educação deveria “entender que nós somos um país conservador” e que o governo “tomará conhecimento” da prova antes de sua aplicação.
‘Mais Brasil, menos Brasília’
Alinhado ao discurso de “mais Brasil, menos Brasília” do presidente eleito, o filósofo também escreveu que “essa tarefa de refundação [do ministério] passa por um passo muito simples: enquadrar o MEC no contexto da valorização da educação para a vida e a cidadania a partir dos municípios, que é onde os cidadãos realmente vivem”.
“Aposto, para o MEC, numa política que retome as sadias propostas dos educadores da geração de Anísio Teixeira, que enxergavam o sistema de ensino básico e fundamental como um serviço a ser oferecido pelos municípios, que iriam, aos poucos, formulando as leis que tornariam exequíveis as funções docentes”, prega o futuro ministro.
Para Vélez Rodríguez, as instâncias federal e estadual devem atuar como “variáveis auxiliadoras dos municípios que carecessem de recursos e como coadunadoras das políticas que, efetivadas de baixo para cima, revelariam a feição variada do nosso tecido social no terreno da educação”. Ele entende que não deve haver “soluções mirabolantes pensadas de cima para baixo, mas com os pés bem fincados na realidade dos conglomerados urbanos onde os cidadãos realmente moram”.
Em seu perfil no Facebook, onde se refere a petistas como “mortadelas” e “petralhas”, Vélez Rodríguez já afirmou que é necessário na educação “que se limpe todo o entulho marxista que tomou conta das propostas educacionais de não poucos funcionários alojados no Ministério da Educação. Isso para início de conversa”.
Na mesma postagem, datada da última terça-feira, 20, o escolhido para comandar a Educação demostra concordar com a proposta de Jair Bolsonaro de criar mais colégios militares e exaltá-los pela disciplina imposta aos alunos. “Os Institutos Militares são excelentes lugares de ensino. Concordo. Mas não é, exatamente, questão de dinheiro. Eles são excelentes porque há patriotismo e porque neles se faz o que de muito tempo não se faz em não poucas instituições públicas de ensino: há estudo, disciplina, valorização dos docentes e amor pelo Brasil”, escreveu.
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