A INQUISIÇÃO NO JN (Será que vão perguntar com tanto vigor a outros candidatos?)
Aprendi há mais de 50 anos ser balela essa coisa de “jornalismo independente”. Você pode manter a coerência, e isso é possível, mas posar de vestal quando, como diz o ditado popular, se tem “mais hora de cama do que urubu de voo” é, pelo menos, querer chamar os outros de idiotas.
O que aconteceu na noite desta segunda-feira, no (ainda, não sei até quando) jornal de TV mais visto no país, foi dois âncoras, aproveitando do momento e se comportando como se (ainda) fossem considerados com a credibilidade de alguns anos passados, até porque ninguém aparecera para confrontá-los.
Diz-se que, no direito, por questão de ética, julgadores devem se dizer impedidos de atuar e deixarem os casos que estejam trabalhando caso possam ser colocados sob suspeição. A dupla de jornalistas resolveu deixar de lado o que seria uma entrevista como a anunciada, e partiu para fazer o que a chamada “grande imprensa” não vem conseguindo fazer desde 2018.
Bonner tentou imputar a Bolsonaro discursos de apoiadores seus que pregam intervenção militar, e o presidente poderia ter dado uma resposta simples, mas conclusiva. “Eu respondo pelo meu CPF”. E tanto ele quanto sua parceira de bancada insistiram em imputar a Bolsonaro a culpa pelas mortes do covid.
Mas quando Bolsonaro começou a falar sobre recursos mandados para os estados para o tratamento e para a internação, e foi muito dinheiro, aí a dupla entrava e já mudava de conversa. Em nenhum momento quiseram falar sobre a grana mandada para o Nordeste e para Manaus, talvez porque estava no roteiro admitir que alguém dissesse em rede nacional as suspeitas que envolvem governadores amigos.
A dupla notoriamente estava nervosa. O sorriso constante de Bonner, não tenho dúvida, era o típico de quem entende não estar alcançando os objetivos pretendidos, ou que lhes tenham sido imputados pelos que mandam neles.
Pela reação das pessoas com as quais conversei durante e logo após a inquirição, o tiro pode ter saído pela culatra e os 40 minutos do JN bem que poderiam ter servido para o candidato falar de seus projetos, mas isso, e ficou bem claro, era o que menos interessava ao grupo ao qual a Rede Globo é ligada, e que há quatro anos faz campanha feroz contra o inquirido.
Para o eleitor que se postou à frente da televisão pensando que iria assistir a uma entrevista de candidato, ficou a sensação de que tanto Bolsonaro como a emissora bem que poderiam ter usado aqueles 40 minutos, e mais o tempo de preparativo para os dois lados, e para o próprio cidadão telespectador, em assunto de maior interesse.
Como resumiram duas pessoas com as quais conversei, perderam todos, “nós que assistimos, o presidente que tinha mais o que fazer e a emissora, daí eu concluir que “perdemos todos”.
Lógico que até essa próxima quinta-feira deverão ter anúncios de pesquisas, pelos mesmos institutos que seguidamente erram tudo no período das campanhas mas que, ao final, como já aconteceu mais recentemente em 2018, alegam que a culpa “é do eleitor”, que trocou de lado de última hora.
Um colunista do site uol.com.br mal acabou a entrevista (vou continuar insistindo nessa qualificação, mas preferiria chamar de “tribunal” como o dirigido pelo infame juiz Roland Freisler, da suprema corte nazista), já estava inserindo no site o comentário admitindo que o JN alcançou a maior média de pessoas assistindo dos últimos anos, e que logo depois de acabado o bloco com o presidente houve uma queda acentuada de televisores ligados.
Bom, a expectativa que ficou a quem assistiu é como a dupla de entrevistadores vai se comportar na quarta-feira, quando o convidado, pelo que a própria emissora, e associados, emitem em todas suas estruturas, é o tipo “amigo da casa”.
Será que vão perguntar a Lula sobre os escândalos do mensalão, o caso Celso Daniel, e as denúncias que levaram à condenação dele em várias instâncias?