TRIBUTO AO EMPRESÁRIO CARALAMBOS VASSILAKIS
CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES
Por: Paulo Cordeiro Saldanha
Jamais esqueci a figura terna, polida, doce e firme do líder da família Vassilakis, o nosso Caralambos. Atencioso e educado, dava-me atenção apesar de minha tenra idade. Desde menino que o admirava! Fiquei eternamente grato pelas atenções de que era alvo, talvez até por transferência de gentileza que jamais de sua parte faltou ao meu tio-avô, o coronel Saldanha, e a meu pai, Paulo.
Fui pesquisar, ouvir testemunhos de pessoas que com ele se interagiram, e descobri que o homem Caralambos era, no campo espiritual, muito mais rico do que no plano material.
Primeiro desembarcou na América do Sul, através de Buenos Aires. Lá ouviu falar nestas terras lindeiras e, atendendo a uma mobilização de mão-de-obra para a EFMM, um dia deslizou, através do trem, nos trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Foi cassaco (trabalhador da ferrovia, um mantenedor de sua trafegabilidade). Com as libras esterlinas percebidas como funcionário, foi construindo a sua poupança. Instalando-se como comerciante no Abunã, deu asas a sua imaginação e ao seu pendor para o comércio, e evoluiu. Aquela localidade ficou pequena para quem sonhava com mais.
Guajará-Mirim surgiu-lhe como perspectiva de novos horizontes e aqui implantou a sua empresa, transformando-a, depois na, talvez, maior empresa desta localidade, sob o nome de VASSILAKIS COMERCIO e INDÚSTRIA S/A.
Homem sempre adiante do seu tempo, foi criando novos braços para os seus negócios. Implantou a Usina de Beneficiamento de Arroz, uma indústria de funilaria destinada ao fornecimento de equipamentos para os seringueiros e uma unidade de criação de porcos da raça Duroc, lá pelas bandas do Triângulo, sem prejuízo dos negócios da sua empresa, que se expandiam a olhos vistos. Foi pioneiro também, por aqui, na venda de combustíveis, através das então modernas bombas elétricas.
Plugado no futuro e querendo como que agradecer à Deus pelos ganhos materiais que esta terra, para ele tão abençoada, lhe favorecia, liderou um movimento que produziu a concretização de um sonho dos libaneses aqui fixados, a partir de uma parceria greco-libanesa, quando foi erguido o Clube Helênico-Libanês, de virtuosa trajetória.
O que pontificava, contudo, na personalidade do Caralambos, era a sua capacidade para ser generoso. Quem o procurava pedindo ajuda, ganhava um emprego, ainda que temporário. Com o salário assim conseguido, ganhava a dignidade para manter a família! Naquele tempo quem era generoso não ficava a mercê de uma truculenta lei trabalhista.
Era apaixonado pelos netos que iam nascendo a partir dos casamentos da Arestela, da Estela e do Jorginho Vassilakis com a Esmeralda, (mais que nora, uma fã ardorosa), seus filhos com dona Elvira Ortiz Vassilakis. O Caralambos era o neto da sua predileção. Perdoava-lhe as “danadices” e ria das “diabruras” da Linda, Tetéia, da Arestela, da Gigi e do Evângelo. Jamais permitia um palavrão, o que o deixava chocado e contra-feito.
Vestia-se com esmero, sempre de linho branco.
Homenageado que foi pelo 5º BEC, o Batalhão de Construção do Exército, em Porto Velho, o seu discurso foi um grito de amor ao Brasil, terra que o acolheu e onde vivenciou os melhores dias de sua apaixonante vida.
Seu prestígio o conduziu, inclusive, a ser personagem de uma especial reportagem jornalística, conduzida pelo jornalista Rogaciano Leite, para a “Província do Pará”.
Na abertura do Clube Helênico-Libanês deixou inequívoca a sua humildade ao dividir com tantos, mas especialmente com o José Melhem e com o Melchíades Barcânias, o sucesso daquela empreitada. Foram comoventes as suas palavras naquela inauguração, no dia 28 de abril de 1962: “Dedicamos esta obra aos nossos filhos, netos e futuros descendentes; dedicamo-la à urbanização e embelezamento da cidade de Guajará-Mirim; dedicamo-la, senhores, mais, ao Brasil, este Brasil fabuloso e benemérito, o País mais liberal e hospitaleiro do mundo…”
Ao ler Bertold Brecht, no que se segue, até parece que ele ao escrevê-la, pensava no Caralambos Vassilakis, quando nos legou que:
“Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém, há os que lutam toda a vida, estes são os imprescindíveis”.
O nosso Caralambos nos deixou no dia 20 de fevereiro de 1970, mas o seu exemplo de fibra, de tenacidade, de amor aos semelhantes e a esta terra ficou eternizado.
Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha