Crônicas Guajaramirenses

A saudade orvalhou meus olhos


CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES

um instante de momentânea solidão, eis que de repente ela bateu à

minha porta sem alarde, como quem não desejasse importunar…

Mesmo assim a considerei temerária por tentar invadir uma

oportunidade única, particular, intimista, personalíssima, que de mim

tomou conta naqueles minutos.

Todavia, sabe-se que essa quase criatura vem revestida de uma aura

intensa, desejando só ela manipular os sentidos, mantendo-se presente e

insistindo em não ficar ausente.

Traveste-se de uma roupagem antiga e envolvida nas lembranças que pungem apertando o nosso interior, empenha-se em se mostrar altiva, desejando impor-se naqueles segundos em que nos fixamos nas doces ou amargas recordações.

E pensamentos galopam soltos, livres, vagam sem rumo determinado, apeando-se, depois, finalmente nas minhas reminiscências, quando me vejo menino sonhador integrante de uma família abençoada.

Interessante é que ela, tão sorrateira, invasiva, bateu à porta e já foi

entrando sem pedir licença. Trouxe-me cheiros, perfumes e sons tão

conhecidos, e cantou uma canção para mim tão recorrente, despertando aguçado interesse e curiosidade. O que eu poderia ver ao depois?

E ao ouvir a canção, a melodia e os versos, me comovi tanto que

percebi meus olhos se orvalharem pela emoção.

Acabei sentindo também a presença de meus pais. Minha mãe

sentou-se na sua pequena poltrona predileta e colocou os pés no pufe para

descansar as pernas. Inclusive consegui ouvir o ranger da rede sendo

embalada e, ainda, a recriminação por ter sido desleixado, não cumprindo

o ritual previsto de lambuzar com graxa a escápula que a sustentava presa

à parede.

E “Zíngara” desfilou no ambiente na voz pequenina de Gastão

Formenti, estimulado pela impiedosa presença dela, daquela virtuosa intrusa naquela ocasião.

Ela é assim: ingressa de repente; às vezes nem pede licença e

chega, como disse, sorrateira, e se aloja no nosso coração, incendiando as

nossas sensações.

Vocês a conhecem: ela tem nome, porém sem sobrenome. Vou

apresentá-la: chama-se Saudade.


Edmilson Braga - DRT 1164

Edmilson Braga Barroso, Militar do EB R/1, formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Rondônia e Pós-graduado em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil.

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