Crônicas Guajaramirenses

A FLORAÇÃO DOS IPÊS


CRÔNICAS GUJARAMIRENSES

Por: Paulo Cordeiro Saldanha

“E a magia que espalha em toda primavera,
O cheiro, o fascínio, a imagem do ipê,
Reacende a chama, a lembrança, a quimera,
Da paixão que um dia senti por você…”

(Oriza Martins)

Interessante! Num piscar dos olhos da escuridão da noite, o ipê se matizou de amarelo ouro, (seria topázio ou, tenho dúvidas, da cor da gema do ovo) e ficou esplendidamente lindo, tão lindo que comoveu!

Primeiro o ipê roxo desabrochou de forma soberana, ainda em agosto, qual Profeta anunciando uma boa nova como aquela, que depois, alguns dias depois, uma cor mais forte, emergiria no nosso firmamento.

E qual estrela num espaço determinado raiou intensa, até que foi desaparecendo, fazendo suas pétalas abençoar o chão onde caiam. E na sinfonia que marca a vida vegetal pintou a terra com uma cor tão linda: violeta.

É esse o papel do Ipê–da família das bignoniáceas, há três tipos: de flor violácea (Tabebuia avellanedae); de flor amarela (Tabebuia chrysantha), e a de cor branca (Tabebuia roseoalba)– ornamentar as passarelas do universo pela floração belíssima.

Essências que são dotadas de lenho muitíssimo resistente, possuem a beleza das folhas que se colorem (ainda que temporariamente) para lhes dar o prestigio de que são alvo.

O ipê é considerado árvore nacional.Quando caminho pela cidade, nessa época do ano e vejo, por exemplo, a floração da árvore no jardim da casa do Jorginho Vassilakis e da Esmeralda, fico comovido com a expressão das cores vivas que somente a mão de Deus pode desenhar.

Rubens Alves, com a sensibilidade a flor da pele faz a afirmação seguinte: “Gosto dos ipês de forma especial. Questão de afinidade. Alegram-se em fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal – abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno e o verão está prá chegar, com seu calor e chuvas. O ipê faz amor justo quando o inverno chega, e a sua copa florida é uma despudorada e triunfante exaltação do cio”.

E noutro dia, qual estrela noutro espaço determinado singrou do alto à terra vigorosa, até que foi desaparecendo, fazendo suas pétalas aplaudir o chão onde caiam. E na sinfonia que marca a vida vegetal tingiu o solo com uma cor tão formosa: amarelo.

Também aprendi a render as minhas reverências à beleza e ao charme dos ipês. Fico olhando-os quando florescem transformando suas folhas verdes nas cores preconizadas por mandamentos superiores e lançam aquelas pétalas matizadas de roxo, amarelo e branco. Plantei-os ao derredor de nossa casa. Mas, no entorno da propriedade rural eles pontificam semeados, por orientação dEle pelos arcanjos que cuidam da natureza.

Jamais desejaria ser exagerado, porém o amarelo do ipê (perdoem-me os pálidos sem coração) não tem igual!

O pintor mais talentoso, mais criativo, mais audacioso não consegue chegar àquele tom. Sem dúvida que se trata de uma tonalidade divinal, posto que seja, na minha sempre tão pobre avaliação, algo entre as cores do ouro, da gema do ovo e do topázio, sem que o sentimento humano possa decifrá-las.

E nos seguintes dias que se sucederam, qual estrela noutro espaço determinado, resplandeceu tão viva e tão forte, alva, até que foi desaparecendo, fazendo com suas pétalas uma genuflexão no chão onde caiam. E na sinfonia que marca a vida vegetal salpicou a terra com uma cor tão simbólica quanto radiosa: branca.

É como se alguém quisesse insinuar que assim alva e translúcida deveria reinar a paz na terra entre os homens de boa vontade.

E o tapete violeta, branco ou amarelo, que se forma ao derredor das santificadas árvores de Ipê, torna o felizardo que caminha naquele palco temporário-personagem de uma representação da vida natural– num artista mudo e extasiado, ante a força do belo, enquanto desfila por sobre as folhas, que se transformaram em pétalas, quatro dias após aquela metamorfose lhe ter saltado aos incrédulos olhos de humano tão pequenino, ante a grandeza do criador.

Até que o vento enciumado bate forte na camada formada pelas pétalas e as transporta silenciosamente, como falenas tontas, para algum lugar ermo, distante da visão daqueles mortais predestinados, que se extasiaram com o cenário a que se permitiram admirar e reverenciar, enquanto durou aquela eternidade.

*Membro fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.

O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Site A Pérola do Mamoré não  tem responsabilidade legal pela “OPINIÃO”, que é exclusiva do autor.


Edmilson Braga - DRT 1164

Edmilson Braga Barroso, Militar do EB R/1, formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Rondônia e Pós-graduado em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil.

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