Crônicas Guajaramirenses

Almir Madeira, o edificador


CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES: 

Por: Paulo Cordeiro Saldanha

Ao longo da minha vida, me conforta sentir saudades, direito que me concedo porque tenho vivências cheias de afeto, carinho, demonstrações de profunda amizade e de ensinamentos recolhidos.

Uma das minhas recordações preferidas é quando me lembro do “seu” Almir Madeira, amigo de minha família, amizade que se transferiu para os da minha geração, através do sentimento fraternal que me une ao Almério, filho do meu homenageado, meu colega de colégio, de músicas, de memoráveis papos, serenatas, do futebol e volley-ball.

Ele, o Almir Madeira, jogava futebol pela ponta esquerda; veloz, possuía um forte chute. Salvo engano foi um dos fundadores do Cruzeiro.

O Almir manejava o violão. O Almério também. O pai, depois que se aposentou como atleta, tornou-se estrategista treinador. Os 16 anos fui seu pupilo pelo América Futebol Clube, mas, antes dos dezoito retornei ao Guajará Esporte Clube.

O Almir Madeira curtia frases de efeito, tipo: —“a Mulher é bela; bem perto ou bem distante dela…” “Futebol é o psicológico instante e ação fulminante…”, “Cada cabeça, cada sentença”, “Depois da tempestade vem a bonança”, etc, etc.

Poucas vezes o vi chamar um palavrão. Sua gargalhada irradiava alegria total, plena, desenfreada…

Homem bondoso, passava a idéia de que jamais se enfurecia. Ledo engano!
Sua irmã Estela Madeira Casara me disse que, embora de espírito desarmado e pacato, se ofendido, reagia de forma violenta. Tanto prova que um dos irmãos Clérigos, que vivia na Prelazia, com o Almir Madeira se desentendeu e o tratou com descortesia, tentando humilhá-lo. Enfurecido partiu para cima do quase frade, pedindo perdão a Deus pelo seu descontrole, mas queria devolver as agressões com os murros que vinha ensaiando. O homem que, naquele momento, representava a intolerância ficou pequenino e se recolheu a sua insignificância física, pois do contrário a ausência de dentes na boca murcha denunciaria que tinha apanhado bastante. A sorte foi que acabou correndo e fugiu da surra.

O futebol era o seu hobby e sabia conduzir seus atletas, incentivando-os com palavras que mexiam com a auto estima. Em 1963 armou o América com Carraspana, Nestor, Nélio, Vicente, Charuto, Capita, Mauricio, Pacula, Almério, este escriba, Caiman, Ditão, entre outros, cujos nomes me fogem no momento. Um timaço! Mesmo assim, o Guajará do Simão Salim, não nos permitiu comemorar o campeonato de 1963.

A “Academia dos Cobras” venceu todas as partidas.

O Paulo Pontes, escrivão da Polícia, documentava com invulgar maestria toda a historia do AFC local.

Nesse ano o América Futebol Clube recebeu um convite e foi jogar em Rio Branco, no Acre. O estrategista Almir Madeira se superou: ganhamos duas, empatamos outra, perdemos uma partida e o sucesso bateu na nossa porta. O desempenho do time recebeu elogios da imprensa acreana.

Ocorre que o nosso homenageado não vivia só para o esporte, não! Era, assim como o Emidio da Hora, outro vitorioso construtor.

Entre as edificações com a sua marca, a Catedral Nossa Senhora do Seringueiro foi erguida em função da sua devoção àquela obra, que, tão grandiosa, saiu do sonho para o projeto, daí para a ação, a partir da coragem e da vontade indômita de Dom Rey, de quem o Almir foi pupilo, quando jovem, pois morou na Prelazia, onde aprendeu vários ofícios, que, enfim, o prepararam para ser um dos maestros da construção civil desta localidade e um dos líderes do esporte.

O Almir Madeira teve ainda o mérito de preparar outros profissionais para a construção civil. Alguns se tornaram mestres e acabaram por multiplicar os conhecimentos recebidos.

Ainda nos anos sessenta arregimentou jovens e fundou o Palmelas (uma agremiação aguerrida), nome de uma comunidade indígena que transitava pelos barrancos do rio Guaporé, entre Costa Marques, Pedras Negras e Rolim de Moura. Pelo que sei, não há sinais da continuidade desse povo.

Certamente que os sítios arqueológicos daquela área guaporense, onde esses índios viviam, registram seus vestígios, através das urnas funerárias, utensílios por eles utilizados, cerâmicas, etc.

Alma generosa sabia fazer e conservar os amigos. E eles eram contados pelas dezenas de homens e mulheres que o reverenciavam, em face das virtudes que detinha e que nos permitem hoje, tanto tempo depois, sentir as saudades dele, todas as que temos direito.

O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Site A Pérola do Mamoré não  tem responsabilidade legal pela “OPINIÃO”, que é exclusiva do autor.


Edmilson Braga - DRT 1164

Edmilson Braga Barroso, Militar do EB R/1, formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Rondônia e Pós-graduado em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil.

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