Por: Paulo Saldanha
Escrevo para você, caro espírito que viajou e na ponta de uma estrela se aconchegou! Escrevo para você, meu ente tão querido, que é “a saudade que gosto de ter”. Escrevo, ao final, para ti, meu Deus, meu Pai e Criador.
Você passou, eles passaram, eu passarei! Na dimensão do tempo e diante da finitude das espécies, todos passaremos! Um, dois ou três, e mais outros milhões, passarão; uns vão voar e nenhuma pena restará como lembrança… E de alguns herdaremos marcas que simbolizarão saudades! Aquela saudade doída, que machuca… debilita… enfraquece… abala… enternece… e comove. Mas que, contraditoriamente, muito tempo depois, acaba nos fazendo sorrir. E com isso acabamos dissimulando a dor intensa que se transmudou em dor passageira, cujos braços quanto mais nos envolvem, mais nos aperfeiçoam… Pois “o sorriso é o bálsamo que aquece os males que nesta terra se padece”.
Principalmente escrevo para você, que não viveu em vão! Ergueu pontes, construiu estradas ligando o afeto à cidade do bem querer, e navegou nos rios caudalosos a bordo dos batelões que levam bons sentimentos e a boa emoção! Transitou pelos caminhos e distribuiu rosas brancas e cor de rosa, azaléias rosadas e camélias vermelhas! Você, que desobstruiu vias, desbastando o aclive do terreno, contornando áreas pantanosas, vencendo declives e abismos; geografias movediças, retirando pedras pontiagudas e espinhos venenosos! Você, que deixou exemplos edificantes nos induzindo, “sem querer querendo”, a seguir seus ótimos exemplos!
Principalmente você, que viveu a generosidade apregoada pelo Cristo e pelos santos; você que foi íntegro, e voluntarioso distribuía alegria e esperança! Se planejava, acabava urgenciando a ação e fazia acontecer! Você, que não demonstrava apego aos cargos, mas realizava sonhos coletivos; você, personalidade firme e integradora, visionário, saltava o hoje pensando grande no depois de amanhã!
Escrevo pensando em você, como espírito predestinado que o vejo, implantando estruturas, empresas, institutos, colégios, hospitais – logo, esperança e crenças, confiança e fé -, sustentação nutrida no entusiasmo que é facultado aos líderes talentosos; que salpica de asfalto bem feito as ruas e rodovias abertas, mas que estavam ou enlameadas ou esburacadas! Você, espírito evoluído, que cuida dos mortos sem esperar merecer o respeito e a gratidão dos vivos…
Você, espírito de luz, já na eternidade, alma bondosa, é a evocação da autoridade, o símbolo para o exercício de um comando superior, que sabia controlar, influenciar, dirigir, reger equipes com maestria, sabedoria e inteligência.
Na realidade, vocês não passarão, pois representam a essência eterna do bom paradigma, e permanecerão vívidos, iluminando a lembrança das gerações que os sucederam e serão sucedidos!
Valorizo os homens e mulheres espíritos de luz que no poder foram maiores que ele: ombrearam-se com as virtudes continuando subordinados à ética, à moral e à Lei; que jamais sucumbiram ao chamamento das facilidades e do enriquecimento ilícito; disseram não às tentações, às jóias raras e ao luxo inconseqüente, que subvertem e anulam a personalidade e o caráter; que se deixam seduzir pela ganância, pela soberba e pela luxúria, sujeitando-se ao vilipêndio, deslustrando sobrenomes antes honrados, maculando a história de vida de pais e avós por terem desprezado a direção reta que jamais admitirá desvios ultrajadores de carreiras, resultando em vergonha para filhos e toda uma descendência…
Finalmente, rezemos ao Espírito Maior, o Senhor do nosso destino, para que nós possamos valorizar sempre mais do que ser valorizados; que aqueles que vieram antes de nós possam, no plano onde estiverem, orgulhar-se da nossa própria trajetória, da feita que se inspira nos seus exemplos; que nós jamais decepcionemos aqueles de quem merecemos sua confiança como responsáveis por nossa boa formação; que o legado deles nos influencie a distribuir luz, generosidade, altruísmo e solidariedade.
Que todos nós, em cima do legado daqueles por quem sentimos tanta saudade, possamos enxergar e mostrar aos outros a beleza de cada dia, e com a palma da nossa mão pegar a neblina, prenúncio da chuva, e, assim, dar a água ao sedento que não pode ver; que o ar passante, sempre límpido e sem poluição, possamos dividir com o irmão tão próximo; levar o cobertor já aquecido para a família carente e celebrar a vida com um café bem quente, servido na latinha de leite condensado com orelha e com palavras que os energizem; que, recordando do sorriso aberto dos nossos próceres tão amados, possamos afastar as nuvens plúmbeas do abandono e irradiar alegria e compreensão… consolo e misericórdia… concórdia e união…
Senhor, escutai, mas atendei a nossa prece!