MÁGICOS, FAQUIRES, VIDENTES E CIGANAS
Por: Luiz Albuquerque
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Da infância até a adolescência meu mundo foi cercado de mágicos, faquires, videntes e ciganas.
Talvez por falta do que se ocupar, já que não havia TV nem Internet, é que, na minha cidade, de vez em quando surgia uma novidade que mobilizava a todos. De circo a tourada, todos iam ver. Agora, show mesmo eram os mágicos e faquires que se apresentavam gratuitamente, nas praças.
Tinha uns mágicos que passavam dias e noites rodeando uma praça numa bicicleta, fazendo mágicas e acrobacias sem parar nem mesmo pra dormir. Outros que ficavam enterrados por uma semana ou mais e saíam de lá vivinhos. Era incrível!
O faquir, sempre magro, até esquelético, se metia numa urna cheia de serpentes venenosas, deitado numa cama de pregos e sem se alimentar nem tomar água por dias a fio. Inacreditável!
Tinha o homem da cobra, sempre com uma poção que resolvia todos os nossos problemas de saúde física. Já para os males da alma, do espírito e da vida, nada melhor que uma boa vidente, sempre uma cigana, que sabia tudo, via tudo da vida de cada um, do passado, do presente e, principalmente, do futuro. Sempre com um companheiro, o casal se apresentava ao público nos mercados, praças ou em frente às igrejas. Enquanto o parceiro abria o show dizendo “concentre-se! Agora responda: quem está ao meu lado? É homem ou mulher?”. Ela, mesmo de olhos vendados, acertava sempre: “é uma senhora!”. Ele: “O que ela carrega consigo?”. Ela dava um tempinho, como se estivesse meditando, e não errava: “Uma bolsa tiracolo”. Palmas, exclamações. E assim a dupla se apresentava até haver um público razoável ao redor. Depois, os dois convidavam o povo e eram seguidos até um pobre hotel onde, entre mistérios, traições, amarrações e descarrego, todos recebiam a promessa de solução dos seus problemas, sem nada ser cobrado. A não ser uma “pequena ajuda para os materiais necessários ao trabalho”, claro!
Há anos não vejo mais mágicos, faquires, videntes e ciganas.
Atualmente, a TV, assim como a Internet, mostra a realidade, a estranheza, o bizarro, o extraordinário, o inconcebível, o abominável e a idiotice, tudo na vala comum da mesmice. Quem mais vai querer sair de casa pra ver alguém ser enterrado vivo durante uma semana quando, no Chile, mineiros passaram meses enterrados e o mundo todo acompanhou ao vivo e a cores? E que graça terá alguém deitar sobre pontas de pregos entre cobras quando homens-bomba se explodem na frente das câmeras?
Afinal, de coisas estranhas e bizarras a TV e a Internet estão entupidas.