Por: Paulo Saldanha
A comida escasseava na casa dos Bazzano Torito e a mulher de Eurácio Torito, Prudência Maria, enervava-se por conta da necessidade de alimentar a prole constituída de sete crianças, viventes naquela colocação num Seringal do Rio Branco.
–Avie-se homem, vá caçar! Pois do contrário só comeremos peixe moqueado com farinha. As crianças querem carne de caça…
–“Preciso me inteirar das noticia das eleição”. Disse com os ouvidos colocado no rádio. “–Agora não vou, não! No final da tarde pego a ispingarda, a lanterna e o bornal e vou trazer o bicho que as crianças apreciam: um cervo”.
O candidato de Euracio estava perdendo pela boca de urna e ele fulo da vida antecipou a caçada, embrenhando-se no mato em vias de receber a escuridão. Pegou a espingarda e outros equipamentos e embrenhou-se na mata, caminhando entre o limite da floresta e uma réstia de campo natural.
Andou bastante sem nada encontrar. Antes que a noite chegasse, eis que ele vislumbra a imagem bonita do alvo de sua peregrinação: um animal encorpado com grandes chifres à cabeça, que nem o pressentiu.
Movimentando-se contra o vento foi chegando, chegando e um estampido ensurdecedor foi ouvido. O Animal correu saindo de um descampado e adentrou na mata fechada. Eurácio, bom de tiro, sabia que tinha acertado e correu atrás do bicho atingido. Viu manchas escuras no chão, pois, com pouca iluminação natural, mesmo assim observou que dava para ver que ele não negou fogo.
Tentou encontrar a lanterna e… tristeza total, esquecera de trazer esse importante instrumento para quem vai caçar à noite. Seguiu a esmo e ouviu os últimos estertores do veado a poucos metros de onde se encontrava.
O animal já não pertencia mais a este mundo… Apressou-se em pegar uns cipós e no escuro tateou e conseguiu um bastante maleável e o amarrou às patas do animal, colocando-o nas costas.
O bicho bem pesado, mesmo assim foi sendo transportado em meio a negritude de todo o ambiente.
Os meninos o cercaram no instante em que despejava a pesada carga no quintal da casa. Vibraram com a certeza de que comeriam algo mais pesado.
–Misericórdia! Vem vê o risco que você correu, homem de Deus! Assustada, Prudência Maria, recuando, gritou quase histérica!
É que Eurácio Torito, na pressa, tateando pensando ter apanhado um cipó, na verdade, se socorreu de uma jararaca e, com ela, amarrou as patas do cervo abatido.
Depois, ninguém desejava chegar perto da caça. E aquele homem, munido de coragem matou a víbora e dependurando a caça se dedicou à tarefa de tirar o couro e as víceras, separando as carnes mais nobres para os seus.
Se não acredita, caro leitor, pergunte ao Três Voltas que me contou essa história…