A TRAMELA
Por: Luiz Albuquerque
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Houve tempo quando as casas não tinham grades e as janelas ficavam o dia todo escancaradas. As portas, geralmente, eram de duas partes, ou “folhas” (a de cima e a de baixo), pois assim podia-se deixar aberta a parte de cima para circular o ar e refrescar a casa, enquanto a parte de baixo era mantida fechada. Não havia trinco, cadeado ou fechadura trancando cada acesso possível, mas havia a tramela.
Certa vez perguntei à minha mãe: “Mãe, pra que serve a tramela da porta?”. E ela: “Ah, filho, é pra nada não. É só pra não deixar a bicharada entrar em casa”.
Caso você não faça nem idéia do que seja uma tramela, vou tentar explicar. A tramela – ou taramela, como está nos dicionários – é um pedaço de madeira com uns vinte centímetros de comprimento e dez de largura que é fixada ao batente de portas e portões das casas por um prego ao centro, o que possibilita que seja girada até 360 graus, substituindo a fechadura, o ferrolho ou qualquer outro tipo de tranca que hoje são tão usadas nas residências.
Em muitas localidades do Brasil a tramela ainda é usada
Uma das características dessa “tranca” é que há sempre um jeitinho de fechar ou abrir a porta mesmo quando se está do lado de fora. Geralmente se usa uma cordinha amarrada à tramela, com uma ponta para fora da casa para, ao ser puxada, mover a ripa. Assim, qualquer um consegue abrir a porta, ou o portão, mesmo estando do lado de fora.
E aí fica a grande dúvida tão presente nos dias de hoje: Se era tão fácil abrir portões ou portas fechadas com tramela, como ficava a segurança? Eu respondo com outra pergunta: E quem precisava de segurança no tempo que eu era menino?
Daí a lógica da resposta da minha mãe quando perguntei pra que servia a tramela: “Ah, filho. É pra não deixar a bicharada entrar em casa”. É, devia ser só pra isso mesmo!
Fico imaginando o que minha mãe poderia responder, atualmente, se eu lhe perguntasse: ¨Mãe, pra que serve o portão eletrônico, as câmaras de tv e as concertinas instaladas aqui em casa?¨. Certamente ela diria: “Ah, filho, é pra nada não. É só pra não deixar a gente sair de casa”.