Por: Paulo Cordeiro Saldanha
Azul, o nosso céu é sempre azul… Diz uma estrofe do Hino de
Rondônia. Será?
Bem antes do nosso “Sob Os Céus de Rondônia”, tentaram nos
ensinar que: “do que a terra mais garrida, teus risonhos, lindos campos
têm mais flores; nossos bosques tem mais vida, nossa vida no teu seio
mais amores".
E eu olho para o céu e me preocupo com as gerações que nos
substituirão…
Mas, convenhamos nesse agosto findante e, certamente no
setembro entrante, aquelas indicações acima vêm enlutadas no
firmamento pelo sol vermelho, pelo cinzento do horizonte e pelas
toneladas de fagulhas que, qual neve lúgubre, vai caindo na terra
esturricada, borrando as águas, as piscinas e os mananciais.
Quem voa à noite, se tiver boa vontade, olhando de cima, do alto,
imagina, que aqueles “pontos de luz” embaixo, seriam estrelas invertidas,
reflexo no chão do seu discreto brilho lá do céu. Ledo engano: são a
representação da temeridade, representam o fogo fratricida, o dano
inclemente e irreversível, derivado das armas e instrumentos que matam
a vida, os bichos, imolando a natureza que, sem defesa, morre aos poucos
aqui na terra, pela ação maléfica do homem, ser tido como superior, que
Deus colocou à sua imagem e semelhança neste planeta secundário.
Assim, aqueles pontos amarelados para quem olha para baixo,
quando se está a dez mil metros de altura, representam a desídia, a
incoerência material e física, a pusilanimidade, as contradições, pseudo
esperteza do humano, que investe na improvisação querendo levar
vantagem, mas que, na verdade, é ato suicida que lhe vai ser cobrado logo
mais, em seguida, ali na esquina do planeta, causada pela fagulha da
inconsequência.
Tudo à guisa da falsa premissa de que o fogo limpa. Será? Na saúde
se sabe que ele esteriliza, como o álcool, mas na natureza ele emudece a
vida e cala para sempre as nascentes embaladas nas verdejantes matas
que as rodeiam. E a água escasseia, a terra fica torrada, a fonte já não
rumoreja, os circunstantes caminham quilômetros com lata d’água na
cabeça, o gado emagrece, viventes bebem lama para não sucumbir…
O fogo, primo irmão da pólvora, se alastra quase na intensidade do
raio e se torna incontrolável! Agride o bioma, que ardido vai secando as
árvores e muda a paisagem. Tudo em volta que, conforme Luiz Gonzaga e
Humberto Teixeira “era só beleza, sol de abril e a mata em flor” caminha
para virar savana e, mais tarde, deserto sem cor.
Sabe-se que as queimadas, que metamorfoseiam os ecossistemas,
afetam as florestas e prejudicam o planeta influenciando negativamente,
ainda mais, o aquecimento global. É elementar, mas, repete-se, queimar
conduz à seca (ausência de umidade) macabra equação, pois envelhece os
tecidos, limitando a vida, tornando-a infecunda, não reprodutiva, infértil
mesmo, aniquilando a essência animal e vegetal, encurtando os passos
que a humanidade poderia dar em direção ao futuro promissor.
E o pior é que a névoa que se forma como decorrência das
queimadas, se escurece o céu, tornando-o plúmbeo, prejudica a
navegação aérea, por conta das lamentáveis conseqüências e produz
perdas de nutrientes nas camadas alvo dessa agressão, que só serão
reparadas, em parte, quando chuvas caírem e água for deslizada no solo
da pátria amada, mãe gentil das terras sul-americanas.
A revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a
PNAS, reproduz o quanto é imprevidente o ato de queimar. A instituição
aponta caminhos e há estudos que nos ensinam a refletir contra o sempre
temerário uso do fogo como alternativa para se limpar pastos, preparo de
plantios e desmatamentos.
Afinal, “o fogo prejudica a fauna e a flora nativas, as queimadas
causam empobrecimento do solo e reduzem a penetração de água no
subsolo, além de gerar poluição atmosférica com prejuízos à saúde de
milhões de pessoas e à aviação” (Eduardo Carvalho Do G1, em São Paulo).
Finalmente, vale a reflexão imposta na parte derradeira do nosso
hino:
“Azul, nosso céu é sempre azul/que Deus o mantenha sem rival,/
Cristalino muito puro/E o conserve sempre assim./Aqui toda vida se
engalana
De belezas tropicais,/Nossos lagos, nossos rios/Nossas matas, tudo
enfim”…
Isto posto, de que adiantam os hinos oficiais elevarem templos a
natureza, se ela, pela ação destruidora do homem, está indo para o brejo…
PAULO SALDANHA, escritor, membro das Academia de Letras de Rondonia e da Academia Guajaramirense de Letras