COISAS DE FORMIGAS E HUMANOS
Por: Luiz Albuquerque
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Começo este texto reproduzindo uma fábula do escritor grego Esopo (620-560 aC).
“O escorpião pediu ajuda ao sapo para atravessar o rio. O sapo, receoso de ser picado durante a travessia, argumentou com o escorpião que se ele o picasse, os dois se afogariam. Só que o escorpião de fato picou o sapo. E disse: ‘Perdoe-me, é da minha natureza’.”
Vamos, então, ao fato.
O episódio que vou relatar aconteceu comigo e com uma formiga.
Não me peçam para dizer que raça (ou tipo) de formiga era. Primeiro, porque sou leigo em formiga, e, segundo, porque isso se passou há muitos anos.
Estava eu escrevendo um relatório para apresentar na empresa quando vi uma formiga se debatendo para sair de dentro de um copo. Fiquei imaginando como aquela formiga teria conseguido entrar naquele copo, e conclui que o único meio era ela ter caído do teto da sala. Olhei para o alto, mas não vi nenhuma outra formiga. Estranhei, pois acreditava que formigas sempre estão acompanhadas de outras parceiras. De qualquer forma, emborquei o copo e deixei livre aquela formiguinha que, esperta e ativa, saiu, a principio sem uma direção certa, até que definiu o rumo e se foi.
Minha mente viajou. Sei que as formigas, como nós, humanos, vivem em sociedade. Além disto, sei que entre elas existe uma rainha e que os machos morrem após fertilizá-la. Parece que é isso aí.
Certa vez me disseram que todas as formigas já nascem destinadas às suas funções, ou sejam: Os machos fertilizam as fêmeas e as fêmeas, ou são operárias, que cortam e carregam os alimentos, ou soldados. Isso quando não são rainhas. Sei, também, que uma formiga tem capacidade de carregar e transportar “não sei quantas vezes” o peso de seu próprio corpo.
Bom, de modo meio torto eu cheguei à conclusão de que as sociedades, tanto a humana quanto a das formigas, têm equivalencias, pois enquanto a maioria trabalha duro, uns poucos usufruem os resultados desses trabalhos.
E foi neste ponto do raciocínio que me dei conta de que havia uma outra coisa na qual tínhamos alguma semelhança, humanos e formigas: a ingratidão. Soube disto ao sentir, numa das mãos, a ferroada da formiga. Ato contínuo, passei a mão sobre o local dolorido, o que fez com que a formiga caísse sobre a mesa. E então mostrei àquela formiga uma de nossas ações que, creio, elas não tem: A vingança. Peguei-a com os dedos e tornei a colocá-la dentro do copo. Como quem diz: “Tá vendo, ingrata? Eu lhe salvo a vida e você paga me mordendo, é? Agora fica aí! Vê se aparece outro bonzinho pra te livrar, vê!”.
Assim é a vida: ferrar é da natureza das formigas, vingar é da natureza dos humanos. Coisas de formigas e humanos.